quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

RETIDÃO (?)



Gostaria de agradecer muitíssimo pelos comentários deixados sobre meus posts. Acredito que, assim, um blog alcança sua verdadeira meta: possibilitar a expressão e a troca de idéias. A partir daí, posso, constantemente (graças a Deus!), reavaliar pontos de vista ou, até mesmo, reforçar algumas convicções. Por isso, só tenho mesmo a agradece por essas valiosas contribuições de meus amigos blogueiros. Logo, gostaria de discutir um pouco mais a respeito do último post, intitulado “Maysa em nós”.

Certas coisas são absolutamente inquietantes. Ainda mais quando vão de encontro ao convencional, ao estabelecido, ao padronizado. Aí, para alguns, conflito vira sinônimo de caos. É uma possibilidade. Mas, é fato, também, ser o conflito um combustível que faz a máquina da evolução girar, que faz com que as mudanças efetivamente ocorram.

A cultura do consenso só vem favorecer a repressão ou inculcar conformismos num mundo onde a diversidade é característica operante. Além do mais, apesar da tentativa de colocar certa “ordem” na vida em sociedade através das inúmeras regras ditadas pelas instituições sociais, com seu ideal de controle e coerção (pseudo-consenso), o que nós vemos todos os dias nos noticiários está longe, muito longe de ser ordem, disciplina ou harmonia. Logo, não é por imposição de um único ideal de conduta ou de pensamento que consciências intrinsecamente conflitantes se harmonizarão numa sociedade linda e feliz.

O ser humano não é consensual, ele é puro conflito. Outros animais podem até ser, porque desde que a vaca é vaca, todas elas sempre pastaram (e só!). Daí a vida de vaca ser algo tão harmonioso... Mas o homem não. Parece haver uma força que o move para diversas direções. Em se tratando dele, 1+1 nunca será igual a dois, numa alusão à Teoria da Gestalt. É só pensar em como estaríamos se o consenso, ou a não transgressão de regras, tivesse sido o caminho traçado pelo homem desde o início dos tempos: provavelmente não teríamos nem descoberto o fogo. O que dizer, então, de Sócrates, Galileu, Picasso, Martin Luther King ou, até mesmo, de Jesus Cristo...? O que estes não foram senão grandes “transgressores”!? Não quero comparar Maysa (que é o tema em discussão) com algum destes grandes nomes. Longe disso. Mas, achei que deveria colocar meu ponto de vista, mesmo que brevemente, a respeito de conceitos como consenso, transgressão, ordem, conflito...

Temos que separar bem as coisas. Antigamente, os ideais de vida tranqüila, de bons costumes, de família eram outros: casamentos eram arranjados, escravos eram açoitados, muitos filhos eram bem-vindos, mulheres não falavam, casais que não se amavam mais se aturavam até a morte... Entre outros bons costumes que se tornaram impensáveis hoje em dia (apesar de ainda contar com seus adeptos). Então, vamos relativizar essa história de vida ideal...

Apesar disso, não quero dizer que não existam valores que devam ser cultivados, como respeito, ética, afetividade, solidariedade. Esses são vitais (e, por isso, atemporais).

Quando chamei atenção das mulheres a respeito da Maysa em nós, em nenhum momento pretendi fazer qualquer tipo de apologia ao individualismo, à irresponsabilidade, à perversão. Até porque, pudemos ver muito bem o que certos excessos cometidos por Maysa lhe causaram: infelicidade. Mas, também, convoquei as mulheres a reconhecerem uma certa dose disso tudo em nós (mesmo que, na maioria das vezes, velada). Não somos perfeitas. E o “mal” Maysa não foi algo restrito a uma personalidade artística desequilibrada. Todas nós temos nossos deslizes, nossas inconstâncias, cometemos erros, assim como eles (os homens) que sempre cometeram, mas que agora estão tendo que dividir o purgatório conosco.

Pode até ser que nenhuma mãe deseje uma vida de Maysa para suas filhas. Mas ousadia e perseverança são características tão notórias quanto essenciais e transparência é produto em falta nos dias de hoje. Por mais que tenhamos um plano traçado para nossos nobres (pelo menos para nós) objetivos, ainda assim haverá erros e tropeços (como é feita, aliás, a vida de qualquer mortal).

O que importa é que percebamos que somos falíveis, por mais que puras e belas sejam as nossas intenções. Que o ideal é relativo. E que nem por isso, é óbvio, devemos deixar de tentar acertar. Não no sentido de uma única resposta certa, de um único caminho possível. Mas, sim, da possibilidade de nos tornarmos pessoas mais verdadeiras, mais afetuosas, mais amadas e amantes. Mais livres.

4 comentários:

  1. Concordo com sua reflexão até certo ponto, salvo melhor juizo, mais exatamente até o terceiro parágrafo (e o último), se elas se referem a pauta em questão que nasceu dessa minisérie Maysa (abro esse parentese para esclarecer que não estou julgando nem muito menos sendo carrasco, estamos (ou estou) apenas discutindo padrões de comportamento que a mídia, de certa forma, impõe a nós todos como coerente e correta).

    Você foi excelente e acertada, quando refere-se ao homem como um ser que transgride por natureza, conflitantes até mesmo em suas próprias idéias e atitudes. Realmente encontrar alguém que nunca cometeu um deslize que seja é humanamente impossível. Hoje o homem mais poderoso do planeta chama-se Barack Obama e é de conhecimento de todos que foi problemático e usuário de drogas, negro e pobre (afinal muitos acham que ser negro e pobre é defeito. Como diz Boris Casoy: Isso, é uma vergonha!). Por isso, é claro que além de muitos outros fatores, muitos o tem como superação de vida (como eu), onde o lema da sua campanha foi "Yes, we can"!. Sabe, estou convencido que se ele chegou até lá, com certeza, ele optou pela RETIDÃO de seus atos, pelo total desapego ao individualismo, pelo respeito e zelo aos seus iguais, viver em harmonia com a sociedade. Jamais citaria aqui Michael Jackson, sou seu fâ pelo artista, pelas obras, pelo show, mas infelismente não o vejo como exemplo a ser seguido. Será que alguém notou a diferença?

    Sei que você sitou Gestalt, por entender que o normal das pessoas, do ser humano, em não ver os diversos sentidos e significados que uma atitude, fato, algo ou alguma coisa possa ter. Os nossos atos podem esta trasngredindo em alguns contextos e noutros não. Assim como as regras podem também significar uma trasngressão. Mas assim como você não ponderou outras questões, por não vê-las, ou entende-las, me sinto da mesma forma enquadrado nesta questão. Acho que nossa discussão aqui é válida para que cada um mostre todos os lados e em todas as perspectivas abrindo nossas mentes para novos experimentos, afinal, adoro experimentar novas fronteiras. Com alguém já disse: Só sei que nada sei!

    Mas, contudo, não podemos discernir o molhado do seco, o quente do frio, o amor do ódio, o sucesso do fracasso, se fazer amado e odiado, etc e etc, se não conhecemos a essência da "coisa". Temos um aprendizado "eterno" desde o nascimento a morte, ainda bebes, sentimos o sabor e sensações de coisas novas a todo instante. E certo dia descobrimos que o fogo nos queima e o amor nos faz sofrer. O que quero dizer, finalmente, que temos que viver sem medo de errar, fazendo o que temos que fazer. Acertando e errando vamos vivendo, tendo a consciência da ação e reação de continuar ou não prosseguindo nos acertos ou erros.

    No obstante, algumas coisas para refletir:
    - O certo, o errado, o consenso, o conformismo, a ordem e tudo mais pode parecer muito subjetivo se pensamos individualmente;
    - Se continuamos contra a maré quem será o maior prejudicado?
    - Se o controverso é bom para todos ou para sí, por que não dialogar, expor, insistir, discutir, refletir ao invés, de simplesmente, ignorar a todos. Afinal, e no final, todos irão ignora-lo;
    - As ovelhas negras que se tornam o ápice e o orgulho da família, são aquelas que reconhecem seus erros e retomam a sua retidão?
    - Você precisa de alguém pra ser feliz? Ou apenas viver sua vida ignorando o mundo em que vive?

    Vendo por outro ângulo. Transgredir como qualquer outra forma de expressão é uma opção que cabe a cada consciência é um direito pleno aos cidadãos. Reitero que todos tem que fazer o que desejam, mesmo que para isso, tenham que magoar os sentimentos de pessoas que os ama para impor os seus sentimentos. Um caso comum é o jovem ou a jovem que contra a familia e a todos resolve fugir com o "amor da sua vida" e isso terá uma consequencia cara para ambos os lados. Isso não implica que os pais ou os jovens estejam certos (ou não).

    Não pude deixar de observar que diferentes "transgressões" foram citada aqui e de certa forma tratadas por igual. Não posso dizer que Martin Luther King (defensor da justiça, direitos e igualdade social e racial) ou Galileu (grande cientista e astrônomo italiano perseguido pela inquisição) estão no mesmo patamar que Maysa (não pela importância da pessoa, do ser, mas por exigir uma reflexão diferenciada dos atos).

    Fernanda. Sempre questionei o fato como o machismo (ou feminismo) é tratado. Parece que muitos vêem o homem e a mulher como seres distintos. Como se existissem um corporativismo do sexo, uma "guerra". Acho que agressões existem dos dois lados, pode ser que de um mais física e do outro mais psicológica. Mas isso não importa, sou contra a qualquer "coisa" que cause o sofrimento da mulher ou do homem, mas como você disse (e sabemos bem) somos falhos em tudo.

    Talvez as atitudes de Maysa (na minisérie) não seja uma questão feminina e sim da raça humana. Os sentimentos, desejos, alegrias, tristeza, dores, amor e paixão são, ao meu ver, exatamente iguais. Um homem criado como uma mulher e vise-versa teriam as mesmas reações diante de uma ação. Salvo o que entendemos como próprio do comportamento biológico, hormonal e pequenos detalhes (risos). Sei que a mulher, os negros (me considero um) foram (e continuam) sendo torturados e maltratados a muitos séculos. A mulher ser torturada, obrigada a casar, e a fazer tudo contra sua vontade é cruel e desumano. Mas acho que fazemos parte de uma evolução, lembre-se que já vivemos em cavernas de pedra, evoluimos tanto que hoje elas são de tijolos (risos). Mas chegará um dia que as mulheres se orgulharão dos homens e os homens irão admirar as mulheres de outra forma. O exemplo disso está na cultura americana, um centésimo mais evoluída, onde as familias são bem conservadoras, mas a posição da mulher é exemplarmente valorizada.

    Só uma observação antes de concluir. Acho perigoso encontrar nesse estilo de vida (a de Maysa) algo positivo, tenho certeza que os jovens e os fracos de caráter não terão uma visão tão crítica e construtiva como a nossa. Penso até que não foi sua intenção. Podemos apontar "ícones" menos conturbados e contraditórios, contudo, sem hipocrisias. Também vejo qualidade na Maysa mulher, mas em certos momentos eles se confundem com seus "defeitos". Talvez ela tivesse consciência deles mas não tinha forças e nem limites (como alguém que se droga) para voltar atrás, de pedir ajuda, ou simplesmente reconhece-los e pedir desculpas, perdão. Seu impulso, orgulho e personalidade forte contribuíram. Enquanto vivos, temos a chance de "acertar", a oportunidade de mudar nosso comportamento e evitar repetir os "erros" cometidos.

    Concluo, fazendo minhas as suas "palavras", que com muita propriedade diz:

    "O que importa é que percebamos que somos falíveis, por mais que puras e belas sejam as nossas intenções. Que o ideal é relativo. E que nem por isso, é óbvio, devemos deixar de tentar acertar. Não no sentido de uma única resposta certa, de um único caminho possível. Mas, sim, da possibilidade de nos tornarmos pessoas mais verdadeiras, mais afetuosas, mais amadas e amantes. Mais livres"
    Fê, artigo entitulado RETIDÃO (?) (em http://minhalupa.blogspot.com/2009/01/retido.html)

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  2. Não acompanhei a série Maysa, por isso não posso opinar em relação a este caso especificamente. Mas acredito que nossos anseios têm que ser controlados, mas não por um machismo ou limitações que imprimem às mulheres até os dias de hoje. E sim por nossas vertentes, de aceitar nossa complexidade e lidar com ela em beneficio de nós, sem deixarmos de pensar no próximo. Cada um sabe sua sede e fome de viver, e prejudicando a si próprio, as conseqüências aparecerão depois. E são elas que nos engrandecem como seres humanos. Precisamos dos erros para aprender a acertar. E precisamos conhecer os nossos limites (e não o limite alheio, imposto por crenças, valores, ou seja lá o que for) para ser feliz.

    “Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos”.
    Paulo Freire

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  3. Roberto, agradeço suas valiosas contribuições e pode ter certeza que você, com suas colocações contundentes, me inquietou. Ainda bem!
    Apesar de olharmos as coisas através de "lupas" diferentes, acredito que, no fim, defendemos (e almejamos) a mesma coisa: ser feliz sem comprometer a felicidade de ninguém.
    No mais, que sejamos fortes, para suportar os obstáculos do caminho, e lúcidos, para discernir os erros dos acertos, ao prosseguir em nossa busca!

    Obrigado a todos por seus apontamentos!

    E Roberto, continue me emprestando a sua "lupa", pois ela é também muito importante na lapidação da minha pedra bruta...

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  4. Tem um desafio pra vc no meu blog!

    bjs.

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